sábado, 10 de setembro de 2011

A Consciência Moral e a Liberdade Humana(cont.)


Se um primeiro momento a criança é levada pela predominância do desejo, ao mesmo tempo em que é constrangida pelas normas quer lhe são exteriores, a educação consiste no esforço de superação de tal estádio. O universo infantil é marcado pela heterônoma, em que as ações são0 comandadas “de fora”, pêlos valores herdados dos pais e da sociedade em que ela vive. Quando a educação é boa, a criança deve caminhar em direção a autonomia, à deliberação, à capacidade de organização autônoma das regras.

Bem sabemos que nem sempre é isso que ocorre de fato...

Liberdades

Quando nos referimos à liberdade de maneira geral, é preciso admitir que seja vário os enfoques pelos quais podemos compreendê-la. Se ninguém é solitário, pois convive na sociedade dos homens,, a liberdade é um desafio que permeia todos os campos da atividade humana.

Assim, podemos falar em liberdade ética quando nos referimos ao sujeito moral, capaz de decidir com autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo a aos outros. Kant dizia que a liberdade consiste na obediência às leis que o próprio moral se impõe.

A liberdade econômica não deve ser confundida com a liberdade absoluta nos negócios. Por outro lado, porque toda atividade produzida supõe relações de dependência entre as pessoas e, por outro, porque convém precaver-se contra as aparências da liberdade. “A livre iniciativa, fundada na idéia de que deve vencer o melhor”, muitas vezes nos faz esquecer de que em uma competição esportiva, por exemplo, os concorrentes sempre a iniciam em pé de igualdade: mesmo quando os talentos são diferentes, todos começam juntos na linha de partida.

A liberdade jurídica é uma das conquistas das modernas sociedades democráticas que defendem a igualdade perante a lei. Ninguém pode ser submetido à servidão e a escravidão; qualquer um tem (ou deveria ter...) a garantia de liberdade de locomoção e ação, nos limites estabelecidos pela lei.

A aristocracia supõe a existência de indivíduos especiais que teriam privilégios. Foi contra as vantagens da nobreza que a burguesia se insurgiu no século XVIII, implantando as idéias contidas na Declaração dos Direitos que surgiram de inspiração para a construção da nova ordem daí em diante.

No entanto, nem todos têm acesso à lei de igual maneira. A justiça é lenta e cara e o poder econômico interferem sempre que pode. Ao se fazer a lei de um país é quase impossível evitar a interferência daqueles que detêm algum poder e desejam manter privilégios. Por ocasião da constituinte de 1988, a discussão a respeito de mais diversos assuntos, como reforma agrária, aposentadoria e verbas para educação pública, foram alvo de pressões das mais diversas, não podendo ser subestimadas as forças decorrentes do poder econômico.

Podemos concluir que a liberdade não é alguma coisa que é dada, mas resulta de um projeto de ação. É uma árdua tarefa cujos desafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando os riscos de perda da liberdade. Como vimos, os descaminhos da liberdade surgem quando ela é sufocada a revelia do sujeito - no caso da escravidão, da prisão injusta, da exploração do trabalho, do governo autoritário - ou quando o próprio homem e ela abdicam, seja por comodismo, medo ou insegurança.

Concepções éticas

Agir de acordo com o bem

Podemos dizer que a reflexão ética se inicia no mundo ocidental na Grécia antiga, no século V a.C., quando se acentua o desligamento da compreensão de mundo baseada nos relatos místicos. Os sofistas rejeitam o fundamento religioso da moral e consideram que os princípios morais resultam das convenções sociais. Por essa época destaca-se o esforço de Sócrates no sentido de se contrapor á posição dos sofistas buscando os fundamentos da moral não nas convenções, mas na própria natureza humana. Seu discípulo Platão, no dialogo chamado Eutíforn, mostra Sócrates discutindo inicialmente sobre as ações o homem ímpio ou santo conforme a ordem constituída para então se perguntar em que consiste a impiedade e a santidade em si, independentemente dos casos concretos.

Para os hedonistas o bem se encontra no prazer. Em um sentido bem genérico, podemos dizer que a civilização contemporânea é hedonista quando identifica a felicidade com a aquisição de bens de consumo: ter uma casa, carro, boas roupas, boa comida, múltiplas experiências sexuais. E, também, na incapacidade de tolerar qualquer desconforto, seja uma simples dor de cabeça, seja o enfrentamento sereno das doenças e da morte.

No entanto, o principal representante do heroísmo grego, no século III a.C., Epicuro, considera que os prazeres os corpo são causadas de ansiedade e sofrimento, e, para a alma permaneça imperturbável, é preciso, portanto, desfazer os prazeres materiais. Essa atitude o leva a privilegiar os prazeres espirituais, dentre ao quais destaca aqueles referentes á amizade.

Varias têm sido as soluções encontradas para as questões éticas no decorrer da história da filosofia, mas desde a expansão do cristianismo a cultura ocidental ficou marcada pela tradição moral cujo fundamento se encontra nos valores religiosos e na cresça na vida depois da morte, Nessa perspectiva, os valores são considerados transcendentes, porque resultam de doação divina, o que costuma levar à identificação do homem moral com o homem temente a Deus.

No entanto, a partir da Idade Média Moderna, culminando no movimento da ilustração no século XVIII, a moral se trona laica. Portanto, ser moral e ser religioso deixa de ser inseparáveis, tornando-se perfeitamente possível admitir que um homem ateu seja moral, e, mais ainda, que o fundamento dos valores não se encontra em Deus, mas no próprio homem.

A moral iluminista

O século XVIII é conhecido como o século das Luzes, porque em todas as expressões do pensamento e atividade do homem, a razão, como a luz, se torna o instrumento para intervir e reorganizar o mundo. Recorrer à razão supõe a recusa da intolerância religiosa, a rejeição do critério de autoridade. Para Kant, maior expoente do iluminismo, a ação moral é autônoma, pois o homem é o único ser capaz de se determinar segundo leis que a própria razão estabelece.

Portanto a moral iluminista é racional, laica, acentua o caráter pessoal da liberdade do indivíduo e o seu direito de contestação. Também é uma moral universalista, porque, embora admitisse as diferenças dos costumes dos povos, aspira por encontrar o núcleo comum de valores universais.

Em busca do homem concreto

A partir do século e no decorrer do século XX, os filósofos começam a se posicionar contra a moral formalista kantiana findada na razão universal, abstrata, e tentam encontrar o homem concreto da ação moral.

É nesse sentido que podemos compreender o esforço de pensadores tão diferentes como Nietzsche, Marx, Kierkegaard, Freud e os existencialistas. Dentre estes, vamos destacar brevemente a importante contribuição de Nietzsche.

A moral cristã é a moral do rebanho geradora de sentimentos de culpa e ressentimentos, e fundada na aceitação do sofrimento, da renuncia, do altruísmo, da piedade, típicos da moral dos fracos.

A questão que se coloca hoje é a da superação dos empecilhos que dificultam a existência de uma vida moral autêntica.

Ainda mais: o esforço de recuperarmos da ética passa pela necessidade de não se esquecer da dimensão planetária da sociedade contemporânea, quando todos os pontos da terra, essa aldeia global, se acham ligados pelos meios de comunicação de massa e pelos mais velozes transportes. Isso nos faz considerar a moral além dos limites restritos dos pequenos grupos, como a família, o bairro, a cidade, a pátria. A generosidade da moral planetária supõe a garantia da pluralidade dos estilos de vida, a aceitação das diferenças, sem que se sucumba à tentação de dominar o outro por considerar a diferença um sinal de inferioridade.

A amizade

A adolescência é o momento em que os amigos assumem papel primordial, que grupos se formaram, que descobrimos poucos a pouco, nossa identidade. Em função disso, trataremos aqui da amizade, embora a abordagem seja mais psicológica que propriamente filosófica.

Características da amizade

A amizade é uma relação de amor, de afeto, de tipo muito especial. Ela se desenvolve no tempo, a partir de encontros sucessivos que nos revelam novas perspectivas, novos caminhos, fazendo-nos compreender uma parte de nós mesmos e do mundo que nos rodeia. É um momento de autenticidade frente à diversidade do outro.

A amizade não envolve sofrimento. Os amigos sentem-se bem na companhia um do outro, sem ambivalência. Não há lugar para mesquinharias, maledicências nem mal-entendidos. Cada um ajuda o outro a descobrir, por si mesmo, aquilo que é essencial em sua vida, percorrendo junta uma parte do caminho.

A amizade é um sentimento recíproco. Não é possível ser amigo.

A amizade é uma relação descontínua. Podemos passar muito tempo sem ver um amigo, mas, quando vemos, é uma alegria, um reencontro sem cobranças pelo tempo que passou. Podemos retomar as conversas, sem obstáculos, sem mal-estar, sem maiores explicações.

A amizade, também, não é exclusivista, ou seja, podemos ter vários amigos, sem que um roube nada do que damos ao outro. Não há concorrência entre amigos. Há reconhecimento do valor da individualidade única e inconfundível de cada um. Toda individualidade merece esse reconhecimento.

Na adolescência, entretanto, às vezes, a amizade é possessiva. Temos ciúmes do amigo que dá atenção a outra pessoa. Sentimo-nos roubados do tempo e do afeto que ele dedica a outra.

É o momento de parar e rever essa amizade. Nosso ciúme é fruto do sentimento de posse, que está ligado ao nosso próprio bem e a nossa insegurança, ou é resultado do descaso do outro que já não valoriza a nossa relação e a nossa individualidade como anteriormente? No primeiro caso, somos nós que não correspondemos á amizade e desejamos amputar as possibilidades de descoberta, de afeto, de encontro do outro. No segundo caso, é o outro que não se comporta como amigo, que se desinteressa da relação e que nos desilude com a falta de reciprocidade. Seja por uma razão ou por outra, a amizade está em crise e é necessário discuti-la, resolver os mal-entendidos para que um novo encontro seja possível, ou que os caminhos se separem.

Talvez não seja muito fácil encontrar verdadeiros amigos. Mas, quando os temos, vale à pena cultivar sua amizade, que pode vir a durar a vida inteira.


O amor e a paixão

Por que falar do amor? Não basta amar?

A resposta é não. Em qualquer idade, o amor, A paixão entre duas pessoas é algo maravilhoso, mas quanto mais conhecemos a estrutura desses sentimentos e das emoções que lhes são relacionadas, melhor poderemos vivê-las, tanto na adolescência quanto em outros momentos da vida.

Estamos, portanto, escolhendo uma das paixões “alegres”, discutidas no texto sobre o desejo, uma vez que enfocaremos somente a paixão amorosa e, ainda aqui, do ponto de vista psicológico.

Francesco Alberoni, sociólogo, italiano contemporâneo, estabelece algumas diferenças entre a paixão e o amor, como veremos a seguir.

A paixão

A paixão, segundo Alberoni, é uma revelação, uma fulguração que transforma toda nossa vida. É o advento do extraordinário que nos retira da tranqüilidade da vida cotidiana, na qual os laços afetivos se encontram já consolidados, e nos atira num rodamoinho que transfigura a qualidade da vida e da experiência, levando-nos a alterar radical e profundamente nossas relações com os outros e nossa postura frente ao mundo.

A paixão, ainda de acordo com a terminologia de Alberoni, é um “estado nascente” que pode levar uma pessoa a descobrir outra ou a descobrir ideais coletivos que a façam ligar-se a um grupo ou movimento. Assim, a paixão é um impulso vital que nos leva a explorar todos os possíveis de nossa vida, que nos faz descobrir emoções intensas e ativas nossa imaginação, tornando-nos mais criativos e contribuindo para que assumamos riscos.

A paixão é ainda, exclusivista. Seu objeto é um só e não pode ser substituído. A paixão exige total dedicação. No entanto, pode ser unilateral, isto é, pode não ser correspondida.

A paixão cria, também, o tempo e o espaço místicos. Determinadas datas, determinados lugares são considerados “sagrados” pelo par enamorado. São “seus”. Estão ligados à origem da paixão e são comemorados seguidamente, tendo a função de reativar os sentimentos.

O amor

Às vezes, em continuação à paixão, outras, nascendo sem ela, temos o amor. O amor é um sentimento de tranqüilidade, de ternura, de reconhecimento das boas qualidades do outro e de aceitação de seus defeitos. Dura mais que a paixão porque se encaixa e se desenvolve fora das situações extraordinárias, dentro dos limites da vida cotidiana.

A passagem da paixão para o amor é feita através de provas, algumas cruciais, às quais nos submetemos e submetemos a outro. Se as provas forem superadas, a paixão vai se revestindo de certeza e o amor passa a preencher os espaços da vida cotidiana, durante a qual nos preocupamos com o outro, assumimos certas tarefas p0ara o seu bem-estar, dedicamo-nos à realização de projetos comuns.

A prova à qual nos submetemos é a prova da verdade: queremos saber se estamos mesmo apaixonados, ou se podemos nos distanciar e der a paixão por encerrada. É a própria força dos nossos sentimentos que nos impele a resistir, a crer que nos enganamos que estaremos bem sem o outro. Já nos inebriamos, agora queremos paz. Basta, entretanto, pouco tempo de separação para que sintamos o renascer da paixão, do encantamento, da necessidade e do desejo de estar com o outro. Neste caso, a prova foi superada.

Devemos sempre nos lembrar de que o amor é uma relação que precisa ser cuidada para não cair no ressentimento, na cobrança por todas as renúncias feitas. É um contínuo refazer de projetos que se adaptem a cada mudança de curso de qualquer um dos parceiros e a cada época da vida a dois, pois o equilíbrio entre a individualidade de cada um, sua necessidade de realização e as exigência do projeto comum é extremamente frágil.

A psicanálise

Sigismundo Freud, médico austríaco, foi fundador da Psicanálise. Ele trabalhou com o professor Bering e por persuasão fazia o enfermo recordar, quando em estado consciente, do que podia obter a cura de enfermos, desde que fizesse voltar às consciências certas representações inconscientes.

Freud, assim, procurava tornar consciente o subconsciente, por meio da persuasão. E, deste modo, a psicanálise se constituiu num método para curar enfermidades nervosas, e foi através de suas experiências e de suas curas, que Freud pôde construir sua teoria.

Observou que os pacientes, quando falarem, narravam muitas coisas de maneira desordenada. Procurou, por entre as palavras, descobrir o que havia de mais importante e que lhe pudesse dar o fio para chegar a descobrir a causa da enfermidade.

Em vez de hipnotizar os pacientes, deixou-os falar à vontade. Estava convencido de que todos os fatos descritos pelo paciente tinham um sentido, e era questão de tempo apenas para que, do subconsciente, surgisse o essencial que lhe permitisse descobrir a causa da enfermidade.

Compreendeu, assim, que muitas coisas que sucedem com os sãos têm sua explicação psicanalítica.

Os esquecimentos não são puramente acidentais. Há uma razão atrás disso tudo. No entanto, tais fatos não são conscientes. O que levava a tal esquecimento era algo de subconsciente.

Freud estudou esses pequenos erros, esses atos falhados, palavras trocadas, que na vida cometemos todos nós. Por exemplo, se num discurso, alguém em vez de dizer: “o honroso discurso do orador que me precedeu”, dissesse “o horroroso discurso do orador que me precedeu” são lapsos que muitos cometem e que revelam as verdadeira intenções de que os pratica.

Fundamentos da Psicanálise

O fenômeno da vida é um fenômeno de assimilação e de desassimilação. Duas constantes biológicas dirigem os homens, assim como todos os seres vivos:

a) Conservação do indivíduo: alimentação, etc.;

b) Conservação da espécie: reprodução.

Na vida se dá uma troca de energia entre o homem e o ambiente. Para assimilar, para alimentar-se, o homem retira do ambiente as energias necessárias, em forma de frutos, alimentos, água, ar, etc., que não pode tirá-las de si mesmo. Por outro lado, o homem devolve ao ambiente, ao mundo da natureza que o cerca, o que recebe (desassimilação). Devolve em parte. Compreende-se, portanto, a relação.






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