sábado, 27 de agosto de 2011

sociologia

Se no século XVIII os dados estatísticos voavam, dando conta de uma produtividade desconhecida, o pensamento social também divagava rumo a novas descobertas. Se o processo histórico possui lógica, pode ser compreendido e as-sim abrir novas pistas para o estudo racional da sociedade (Vico 1668-1744). Para ele é o homem que produz a história. Daí, afirmava que a sociedade podia ser compreendida porque, ao contrário da natureza, ela constitui obra dos próprios homens. Esta postura influenciou os historiadores escoceses da época, como Da-vid Hume (1711-1776) e Adam Ferguson (1723-1816), e seria posteriormente de-senvolvida e amadurecida por Hegel e Marx.

Foi também dessa época a disposição e tratar a sociedade a partir do estudo de seus grupos e não dos indivíduos isolados, a cuja corrente pertencia Adam Ferguson que foi influenciado pelas idéias de Bacon de que é a indução, e não a dedução, que nos revela

a natureza do mundo, e a importância da observa-ção enquanto instrumento para a obtenção do conhecimento.

É a intensidade dos conflitos entre as classes dominantes da sociedade feudal e a burguesia revolucionária que leva os filósofos, seus representantes inte-lectuais, a atacarem de forma impiedosa a sociedade feudal e sua estrutura de conhecimento, e a negarem abertamente a sociedade existente.

Os iluministas, enquanto ideólogos da burguesia, com posições revolu-cionárias, atacavam firmemente os fundamentos da sociedade feudal e seus privi-légios e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Estes iluministas reformularam as idéias e procedimentos de seus ante-cessores como Descartes, Bacon, Hobbes: ao invés de usarem a dedução como a maioria dos pensadores do século XVII, os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseado no modelo das ciências da natureza, influenciados mais por Newton (modelo de conhecimento baseado na observação, experimentação e a-cumulação de dados), do que por Descartes (método de investigação baseado na dedução).

Combinando o uso da razão e da observação, os iluministas analisaram quase todos os aspectos da sociedade (população, comércio, religião, moral, famí-lia, etc.).O objetivo do estudo era demonstrar que as instituições eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e impediam a liberdade do homem, por isso deviam ser eliminadas. Para eles o indivíduo possuía razão, perfeição inata e era destinado à liberdade e à igualdade social. Reivindicavam a liberação do indivíduo de todos os laços sociais tradicionais, tal como as corpora-ções, a autoridade feudal, etc.

O visível progresso das formas de pensar, fruto das novas maneiras de pensar e viver, contribuía para afastar interpretações fundadas em superstições e crenças infundadas e abria espaço para a constituição de um saber sobre os fe-nômenos histórico-sociais.

O “homem comum” da época também passou a deixar de encarar, cada vez mais, as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e imutá-veis submetidos a forças sobrenaturais, percebendo-os como produtos da ativida-de humana passíveis de serem conhecidos e mudados.

A ferrenha crítica dos iluministas às instituições feudais constituía-se em claro indício da putrefação da luta que a burquesia travava no plano político contra a classe feudal dominante. Na França, as forças burguesas ascendentes colidia com a típica monarquia absolutista que privilegiava aproximadamente quinhentas mil pessoas em detrimento de vinte e três milhões de habitantes, no final do século XVIII. Estes privilégios incluía isenção de impostos, direito de receber tributos feu-dais e impedia a formação de livre-empresa e a exploração eficiente da terra e in-capaz de criar uma administração padronizada através de uma política tributária racional e imparcial.

A burguesia, ao tomar o poder em 1789, insurgiu-se definitivamente con-tra os fundamentos da sociedade feudal, ao construir um Estado que assegurasse sua autonomia diante da Igreja e que incentivasse e protegesse a empresa capita-lista। Aconteceu aí uma liquidação do regime antigo. Em menos de um ano a velha estrutura e o Estado monárquico estavam liquidados, inclusive abolindo radical-mente a antiga forma de sociedade e suas tradicionais instituições, arraigados cos-tumes e hábitos, promovendo sensíveis alterações na economia, na política e na vida cultural. Neste contexto se situam a abolição das corporações e dos grêmios e a promulgação de legislação que limitava os poderes patriarcais na família, coibin-do os abusos da autoridade do pai e forçando-o a uma divisão igualitária da propri-edade. Confiscou propriedades da Igreja, suprimiu os votos monásticos e respon-sabilizou o Estado pela educação. Acabou com antigos privilégios de classe e am-parou e incentivou o empresário.

O choque da revolução foi tão intenso, que após quase setenta anos de seu triunfo, o pensador francês Alexis de Tocqueville disse dela: “A revolução se-gue seu curso: à medida que vai aparecendo a cabeça do monstro, descobre-se que, após ter destruído as instituições políticas, ela suprime as instituições civis e muda, em seguida, as leis, os usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer a-gredir até Deus...” Este espanto também foi partilhado por outros como Durkheim, Sant-Simon, Comte, Le Play, etc.

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